Holiday Blues
E essa melancolia de final de ano tem até um nome científico: "Holiday Blues", e embora possa ocorrer durante toda a temporada e em feriados prolongados, manifesta-se principalmente neste mês, quando o mundo inteiro pára, celebrando simultaneamente. Por isso, dezembro é o mês de maior sensibilidade emocional, principalmente para as pessoas que estão passando por adversidades, porque é na virada do ano que a grande maioria de nós fazemos o balanço do ano que finda e aproveitamos para traçar a esperança em relação ao ano novo que se inicia.
Quem tem filho, ou se prepara para passar por umas três festas de natal ou, se separadas, sofrerão o drama do rodízio das crianças nas celebrações. E particularmente, eu, você e a grande maioria dos brasileiros, neste ano de 2019, perceberemos facilmente que a melancolia natalina já é bastante agravada em razão da conjuntura social, econômica e política do país.
Impossível não ficarmos desesperançosos diante do evidente apodrecimento institucional, do desmonte da Cultura, do descaso com a Saúde e à Educação a que assistimos impotentes.
O que estou fazendo da minha vida?
Curioso é notar que enquanto algumas pessoas optam por passar este período sozinhas em um exercício de limpeza mental e autoconhecimento, outras sentem-se frustradas justamente por não ter com quem compartilhar os momentos importantes. A convivência forçada com conhecidos ou familiares distantes também pode ser incômoda e gerar insatisfação, justamente o contrário do que se espera de celebrações. Sim, dentro de duas semanas você vai ter que encontrar os seus parentes com quem brigou por causa de política no grupo de WhatsApp da família e/ou no Facebook. Parte da sua lista de bloqueados, mais aqueles que você colocou no modo invisível vão se materializar como pessoas de carne e osso e você vai perceber que é real, pois o Natal é uma timeline sem opção de block e sem possibilidade de ocultar. Mas é também uma época de reflexão: “O que estou fazendo da minha vida?", você vai se perguntar, ao mesmo tempo em que terá que ir à festa da firma, comprar presentes para “amigo oculto” e responder mensagens urgentes sobre a ceia. E a saída dessa depressão coletiva não está à vista e não há até o momento um líder de credibilidade que possa conduzir a nação a um porto seguro. Este haverá, ainda, de despontar no horizonte. E pode ser até que você, pela primeira vez na vida, esteja inclusive com saudades da festa de firma, já que está desempregado. Justamente você que reclamava, mas agora lembra que era uma época boa, onde até existia uma coisa chamada 13o salário...
Natal e o Réveillon são caracterizados como épocas de alegria, celebrações, encontros de família e prazer. Mas como esquecer as adversidades, não é mesmo? Afinal, vivemos em estado de divergência de atitudes políticas entre extremos ideológicos como jamais antes visto. E mesmo que você não queira nesse momento pensar nos problemas da sociedade ou não sofra de depressão, mas está sentindo uma certa “tristeza” no ar, saiba que uma série de fatores pode motivar a melancolia de final de ano, desde o estresse pelas sucessivas comemorações, passando pelo viés excessivamente comercial das festas, até o desconforto com a solidão em si.
Todos sabem que 2019 foi um ano pesado
Ter de presentear ou ir a festas só para obter reconhecimento social, ter de postar fotos lindas nas redes sociais nessa época do ano, é fator gerador de grande sensação de impotência, principalmente quando a pessoa não pode (porque não tem condições financeiras) ou não tem vontade de presentear. Afinal, em geral, as pessoas presenteiam para estarem presentes na vida de quem os recebe. E é justamente, essa obrigação de celebrar e comprar é o que causa raiva e angústia. E é por essas e outras razões, que dezembro é um período reflexivo, porque precisamos aprender a lidar com familiares que fala o que quer e ofende. Com amigos que "piram" do nada e elevam a voz da alma contra sua vida. Sem contar os amigos das redes sociais que tem atitudes de puro desrespeito a si próprio e imagina se fossem respeitar o próximo. E entre aventuras bem-sucedidas e muitos escorregões, ainda temos que sorrir para 2020 e seguir em frente. Temos que levantar a cabeça, lidar com as frustrações. Viver não é tarefa das mais fáceis. Sempre teremos que entender que mesmo que se faça o melhor, nem sempre as pessoas vão estar satisfeitas e por aí vai... E não é à toa, afinal todos sabem que 2019 foi um ano pesado.
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Cada um com suas dores. Pode ser o pesar pela morte de um ente querido, a perda de um emprego, uma separação ou doença, não importa. As reclamações podem também ganhar sintomas físicos como dores de cabeça, dificuldade para dormir e resultar em consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou comida.
Por outro lado, o Natal, como se sabe é considerado a festa máxima da cristandade. Ele relembra e celebra, ou pelo menos deveria, a providência divina de um Deus amoroso, que veio a esse mundo para conviver e interagir conosco. E embora seja uma data cristã, o Natal, pelo que contém de euforia, descontração e confraternização, acaba tendo influência sobre as pessoas de qualquer crença e até mesmo àquelas sem crença alguma. Ficar melancólico no Natal e na noite de Ano Novo me parece estar mais relacionado a fatores externos do que deficiências do organismo, embora estas possam contribuir para acentuar os sintomas, como nos casos de depressão, mas calma! Essa tristeza pode ser incômoda, mas vai passar em poucos dias. A minha dica é não a transformar em um fardo a ser carregado durante o próximo ano. Afinal, ficar triste faz parte da vida e não há nada de patológico em não se identificar
com as festas de final de ano.
Enquanto houver esperança, a humanidade continuará ambicionando ser feliz, seja pelas atitudes, pela força que ela coloca nas suas ações ou pelas suas próprias convicções. Vivemos em um tempo em que o tempo passa em nossas vidas e no entanto não temos tempo. As pessoas passam sem ficar, ficam sem falar, falam sem dizer, dizem sem pensar. Tudo a nossa volta é uma corrida, e quem corre não tem tempo para compreender, para ver, para acontecer. A dica é pensar que existem milhares de formas de transformar os últimos dias de 2019 numa época especial. Ainda é tempo para percebermos coisas simples e bonitas como amar e ajudar. Esse novo tempo pode ser agora, basta apenas que queiramos começar, pois, Natal é simplesmente amar e doar-se, e isso faz bem para quem dá e para quem recebe. E mesmo que você não tenha não tem crença nenhuma, e o Natal cristão nada lhe diz no campo espiritual, saiba que lhe desejo um bom tempo, bons momentos de alegria e fraternidade com sua família, seus amigos ou com pessoas desconhecidas, já que tantas há por aí, desassistidas e solitárias necessitando de um olhar amigo. Afinal, o ideal neste momento é estar cercado de pessoas que gostamos, aumentando a interação com elas o máximo possível. Seja quem for, um amigo, vizinhos, o mais importante nessa época é estarmos ao lado de companhias agradáveis.
Portanto, entenda que se aproveitarmos o período para fazer uma reflexão sobre nossas escolhas, no final, saberemos lidar melhor com nossas limitações e podemos melhorar como pessoas, para dar outro sentido a esta época que pode ter o significado de recomeço. E recomeço implica em ter fé, a pílula dourada para atravessar o novo ano que está prestes a começar. E já que estamos falando em recomeço, que tal aprender a lidar com as pessoas à sua volta? Se é um amigo de verdade, vai continuar te apoiando no novo ano.
Se não for, deixe-o ir e siga em frente. Se a família colabora e celebra com a força para superar desavenças, ótimo, se não, deixe-a também livre e lute pelo
que for possível. O que não dá é marretar algo que como concreto não se move um milímetro. Entenda, com amor a vida segue bem e perdoar é o start
do recomeço. Feliz 2020 a todos!!!